Começam as tentativas de amarrar votos dos delegados antes mesmo do Congresso do Andes

Por quê a Diretoria da Regional Planalto do ANDES quer impedir delegados da UFG de votarem pela defesa da previdência e por “Lula Livre” como o centro da luta para 2019 no Congresso do ANDES?
Confira o relato de Humberto Clímaco – professor do Instituto de Matemática e Estatística da UFG, eleito um dos dez delegados para o Congresso do ANDES, com o voto de todos os presentes à assembleia.


No último dia 14, participei de assembleia do ANDES para tirar delegados para seu Congresso em Belém, a ser realizado de 28/01 a 02/02 de 2019. Houve a discussão do Texto de Resolução 1, tema “Centralidade da Luta”, ou seja, o tema que define qual será a parte mais importante da luta do ANDES ao longo do ano de 2019.

Houve duas pessoas, uma da diretoria e outra de fora, que defenderam a TR que afirma, de maneira que me pareceu bastante genérica, que a centralidade consiste em “Construir uma Frente Nacional em Defesa das Liberdades Democráticas, em ampla unidade de ação, para defender os direitos, os serviços e o(a)s servidore(a)s público(a)s, as Universidades, os Institutos Federais e os CEFET com financiamento público, preservando a autonomia e a independência de classe”.

Da minha parte, defendi um texto que coloca no centro itens que enumero a seguir os principais: Defesa da Previdência pública- “Não mexam na Previdência”, revogação da EC 95, defesa da Universidade, de sua autonomia e da liberdade de ensinar e aprender, defesa do serviço público, das estatais, do Pré-Sal e das riquezas em geral, Lula Livre, em defesa da democracia, das liberdades e dos direitos, Defesa dos sindicatos e das organizações dos trabalhadores, lutar contra a criminalização dos movimentos sociais. Ou seja: o texto que defendi afirma claramente questões totalmente ausentes do texto da diretoria, em particular a defesa da previdência e do Lula Livre.

Após a discussão se colocou a voto a forma de mandatar os dez delegados da UFG ao Congresso, relativo a como eles deveriam votar com relação a esse assunto.

Eu me abstive da votação, pelas razões que se encontram na declaração de voto abaixo, que escrevi a pedido da diretoria do ANDES. Como há muitos detalhes imperceptíveis para quem não conhece os meandros dos Congressos do ANDES, achei por bem fazer esta explicação.

O fato é que dois textos foram apresentados e discutidos, e a diretoria aproveitou-se da posição de maioria com algo em torno de 60% dos votos (a votação foi algo como 8 x 4 ou 8 x 3, com uma ou duas abstenções) para realizar uma manobra anti-democrática de maneira a supostamente impedir todos os dez delegados da UFG de votarem numa resolução que coloca no centro da atividade do sindicato a defesa da previdência e do Lula Livre, em nome de uma nebulosa “Frente”, não se sabe com que princípios ou bandeiras.

É bom lembrar que a Assembleia de escolha dos delegados é a etapa inicial da discussão do Congresso. Nela é importante, portanto, que se favoreça que todas as posições presentes no debate, conforme a representatividade obtida por cada uma delas, cheguem ao Congresso, representadas por delegados eleitos. Obrigar todos os delegados eleitos a votarem na posição majoritária corresponde a encerrar ali mesmo o debate que será feito no Congresso. Por este entendimento, a rigor, nem seria necessário realizar o Congresso, bastando uma consulta ao resultado das assembleias para somar quantos votos obteve cada posição, numa espécie de “plebiscito de assembleias”. 

Eu entendo a democracia sindical como sendo o oposto disso. Vejo o Congresso como culminância de um processo que começa nas assembleias. Encerrar a discussão na Assembleia, impedindo uma minoria representativa de levar sua opinião ao Congresso é, além de um esmagamento das opiniões minoritárias, uma desvalorização do próprio Congresso como arena do debate, do contraditório e da democracia.

Não tenho elementos para avaliar se o único local em que esse tipo de prática tem ocorrido é na UFG. Mas acredito que a direção do ANDES não pode fazer outra coisa a não ser repudiar essa atitude da Regional Planalto, que divide e afasta os docentes do ANDES.

A questão que se coloca é: o que teme a diretoria da Regional Planalto com esse tipo de tentativa de interdição da discussão? Que a livre discussão possa fazer com que a vontade da maioria dos docentes prevaleça e seja aprovado o Lula Livre e a Defesa da Previdência como centralidade da luta?

Segue abaixo a declaração de voto:

“Me abstive dessa votação[1] porque acredito que ela não deveria ter ocorrido. É um princípio elementar do movimento dos trabalhadores do mundo inteiro[2] que, quando se elege uma delegação a um congresso, se use algum critério que garanta que uma minoria na assembleia, desde que minimamente representativa, seja representada na delegação de maneira proporcional ao número de membros da assembleia que concordem com sua posição.

  Forçar uma delegação inteira a fechar com a posição da maioria impede que as minorias nas assembleias possam expressar no Congresso do ANDES suas posições e opiniões, que podem até se tornar majoritárias no Congresso. Esse tipo de postura afasta os professores do ANDES. Acho que o Andes tem muito o que aprender, muito o que melhorar. O Fernando[3] me chamou de mentiroso. Isso é totalmente desnecessário”.

  Essa postura de esmagar e ofender as minorias afasta as pessoas do ANDES. O Andes tem muito o que aprender.

            Concluo com um convite aos professores da UFG para fazermos uma reunião de prestação de contas do Congresso do ANDES na semana de início das aulas ou uma antes


[1] Votação sobre se todos os delegados deveriam acatar a posição da maioria da assembleia, com relação à votação do Texto de Resolução do Tema 1, ou se a distribuição dos votos dos delegados no Congresso se daria de maneira proporcional aos votos que estas resoluções receberiam na assembleia.

[2] É o caso da FASUBRA, da UNE, do SINTEGO, da APEOESP e de todas as entidades que conheço no Brasil e no mundo.

[3] Diretor do ANDES, coordenador da Assembleia, responsável pela inscrição e que inscreveu a si mesmo por último na discussão sobre o texto em questão, de modo que eu fiquei impedido de responder às acusações que sofri.